Estágio no Acre foi a escolha do residente Carlos Renato
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O
estágio optativo oferecido pela residência em medicina de família e comunidade
pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro aconteceu na cidade de Rio Branco,
no estado do Acre, no mês de agosto de 2015, através do programa de residência
de medicina de família e comunidade daquele estado, no modulo de saúde Jardim
Primavera, que atende aproximadamente 650 famílias
cadastradas. Estes atendimentos acontecem em uma casa devidamente improvisada
que possui: 01 (uma) sala de recepção; 01 (uma) sala de pré-consulta; 01 (uma)
farmácia; 01 (uma) sala odontológica; 01 (uma) sala de reuniões; 02 (dois)
consultórios médico; 01 (um) consultório de enfermagem; 01 (uma) sala de
vacina; 01 (uma) sala de acolhimento e 01 (uma) área de espera. Recentemente
recebeu como forma de anexo, (01) uma área como extensão. No modulo de Saúde
Jardim Primavera são disponibilizados consultas médicas, de enfermagem,
odontológicas, e imunização. São oferecidas aproximadamente 30 consultas
diárias. É feito a dispensação de medicamentos para hipertensão, diabetes,
antiparasitários, sintomáticos e outros, além de curativos e preventivos. Os
exames laboratoriais são realizados em uma Policlínica (Policlínica Tucumã)
devidamente capacitada. Após solicitado o exame, pacientes se dirigem para
aquela unidade, em casos urgentes é solicitado o serviço do SAMU. Quando não é
possível o deslocamento do paciente (pacientes restritos), o técnico de
enfermagem colhe o exame e leva até a unidade.
A
equipe de saúde é composta por 1 médica (preceptora) , 1 enfermeiro, 1 técnico
de enfermagem, 4 agentes de saúde e comunidade, 1 profissional administrativo.
Realizam-se
uma vez ao mês atividades com grupos (grávidas, idosos, hipertensos,
diabéticos) onde os pacientes e equipe multiprofissional, incluído acadêmicos
de medicina, residentes das diversas áreas, saem em comboio para um lugar de
área verde pré-determinado, onde acontecem palestras sobre práticas saudáveis
de saúde, incentivo a alimentação saudável, e outras orientações conforme
surjam no momento, sendo ofertado um lanche para os presentes além de um ensaio
fotográfico para as futuras mamães no caso das grávidas. Realizei
também atividades, através do Programa Saúde Itinerante daquele
estado, que desenvolve uma nova modalidade de cuidado, levando atendimento
médico especializado e cirúrgico às populações residentes em todos os
municípios acreanos, até os mais isolados, de difícil acesso e em locais com
insuficiência da oferta assistencial, este realizado no município Santa Rosa do
Purus em um final de semana, a 50 minutos de avião.
1.1 ATIVIDADES REALIZADAS NO
MÓDULO DE SAÚDE JARDIM PRIMAVERA
Durante
todo o mês das 8:00h às 12:00h, 14:00h às 17:00h assumi um consultório, atendendo consultas agendadas de pré natal, hipertensão arterial, diabetes,
puericultura , demandas livres, visitas domiciliares, participação de grupos e palestras sobre tabagismo. As quintas feiras, no período da tarde,
participei de apresentações de casos clínicos, onde tive a oportunidade de
apresentar um deles, referente a um paciente restrito ao leito,
paraplégico, que acompanhei em visita domiciliar, com orientação de
minha preceptora direta, Dra Gisele de Souza. Os casos clínicos são
apresentados no prédio da coordenação da Residência. Lá se reúnem os
preceptores da residência de medicina, enfermagem, fisioterapia, assistência
social, além de acadêmicos de medicina. Também às sextas feiras, todos os
residentes se reúnem com um dos preceptores do Programa de Residência para
assistir uma apresentação, com variados temas.
1.2 ATIVIDADES REALIZADAS NO
MUNICÍPIO DE SANTA ROSA DO PURÚS
Saída
às 9h do dia 21 de agosto do aeroporto de Rio Branco, erámos no total de 12
médicos, nas seguintes especialidades: Médicos de família (2),
Cardiologia (1), psiquiatria (1), endocrinologia(1), infectologia(1),
dermatologia(1), ginecologia(2) pediatria(2), gastroenterologista(1). O
atendimento iniciou no mesmo dia em uma escola do município, devidamente
improvisada para o atendimento. Lá já nos aguardavam centenas de
pacientes, com um numero expressivo de crianças. 70% da população daquele
município é ribeirinha e indígena, muitos tiveram que fazer uma longa viagem em
pequenos barcos, durante horas . Dos serviços oferecidos além das consultas
médicas, tínhamos ultrassonografia e eletrocardiograma além da assistência
social, e dispensação de medicamentos. Fiquei no auditório do colégio, eu e Dr
Pablo (médico de família - preceptor). Tínhamos apenas um estetoscópio, um
esfignomanômetro e uma maca desprovida de qualquer privacidade. Em outras salas
ficaram os demais profissionais, também com seus “consultórios” improvisados. Neste primeiro dia o atendimento terminou por
volta de 20h. No sábado, dia 22, novamente iniciamos o atendimento às 8h, com
uma pausa de 1 hora para almoço, finalizando o atendimento por volta de 20h.
Somente nosso atendimento (meu e o outro colega), no final do dia somavam um
total de 200(duzentos) aproximadamente.
Conclusão
O
estágio optativo foi além das minhas expectativas, as diferenças geográficas, culturais,
socioeconômicas e da própria infraestrutura quando comparadas a nossa realidade
aqui no sudeste são grandiosas. As grandes dificuldades encontradas por aquela
população para ter acesso ao Serviço Único de Saúde, além da oferta reduzida de
profissionais são um dos maiores desafios do serviço. O
trabalho no módulo de saúde em que fiquei sob a supervisão da preceptoria foi
satisfatório. Algumas diferenças me chamaram atenção. Uma delas é organização
dos prontuários. O prontuário de cada família é colocado dentro de uma pasta
única, o que dificulta bastante o acesso às informações de forma rápida e
prática como acontecem em nosso prontuário eletrônico. As informações estão
sempre fragmentadas, dificultando o acesso no momento da consulta, além do preenchimento
de uma folha de produtividade a cada consulta, com numeração do cartão do SUS e
outros dados que computam a produtividade.
Durante
todos os dias da semana rodam dois acadêmicos de medicina, e diversos
residentes de todas as áreas, medicina, nutrição, fisioterapia, enfermagem,
psicologia e serviço social. Uma vez na semana, todos estes profissionais se
reúnem para discutir um caso clinico, onde cada profissional contribuem para o
caso, traçando metas para melhor assistir o paciente do caso em questão.
No município de Santa Rosa do Purus, de acordo com o Censo de 2014 há
4.600 habitantes, destes 2.800 vivendo em zona rural, com apenas 2 médicos (do
programa mais médicos). O serviço de saúde enfrenta grandes dificuldades na
assistência por falta de estrutura física, falta de materiais hospitalares,
medicamentos e laboratório para realização de um simples hemograma. Como lá é
área de fronteira, o Exército está presente e contribui cedendo um profissional bioquímico para realização de 3 coletas de
sangue por semana, o que é insuficiente para a demanda.
Vivenciar
esta realidade me fez refletir sobre as dificuldades enfrentadas naquele lugar,
traze-las para minha vivência no dia a dia aqui na clinica onde realizo a
residência, me capacitando para o enfrentamento de algumas adversidades que
possam surgir durante a vida profissional, com a certeza de que já avançamos
muito. Também refletir os grandes desafios vivenciados, ter a certeza de que
podemos fazer a nossa parte, oferecendo aos nossos pacientes uma escuta
qualificada focada na pessoa e não na doença, tendo em mente que o pouco em
determinadas situações se torna muito, e muito podemos fazer.
Relatório de Estágio Optativo
Residente: Carlos Renato Oliveira de Menezes
Período: agosto 2015
Local: Rio Branco-Acre
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